quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Alzheimer: Rember… uma esperança na cura - By Nilnews

em 29/09/2008 20:36 (kiminda.wordpress.com)

São animadores os primeiros resultados de um remédio, o rember, que freia o ritmo de avanço da doença de Alzheimer.


Um medicamento que no passado era indicado para tratar infecções urinárias é a nova esperança dos doentes de Alzheimer. Uma versão reformulada e mais pura do velho azul de metileno, chamada rember, estacionou a progressão da doença por cerca de dezenove meses nos pacientes pesquisados. Os estudos com o remédio ainda estão em fase inicial, mas os primeiros resultados são animadores: passados quatro anos, os doentes tiveram uma redução de 81% na velocidade da deterioração das funções cognitivas. É o dobro da eficácia do atual arsenal terapêutico contra o mal.

O rember foi testado em 321 pacientes por pesquisadores da Universidade de Aberdeen, na Escócia. Os resultados foram apresentados em uma conferência internacional sobre a doença de Alzheimer, na semana passada, em Chicago, nos Estados Unidos.

Principal causa de demência em pessoas com mais de 60 anos, o Alzheimer afeta 25 milhões de indivíduos em todo o mundo, 1 milhão deles no Brasil. À medida que a doença avança, os neurônios morrem. Suas vítimas vão perdendo a memória e apresentam mudanças bruscas de comportamento.

Os medicamentos atuais, que agem sobre os neurotransmissores acetilcolina e glutamato, são apenas paliativos. Recorre-se a eles quando os sintomas do distúrbio são evidentes. Faltava a criação de um remédio que atacasse os mecanismos iniciais da doença. “É cedo para comemorar, mas a nova medicação parece ser uma ótima promessa”, diz o psiquiatra Mario Louzã, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Se tudo der certo, o rember chegará às farmácias em quatro anos.

Os cientistas já sabem que, nos portadores de Alzheimer, duas proteínas, a betaamilóide e a tau, funcionam de maneira inadequada. Elas formam placas e emaranhados de fibras que matam os neurônios. O rember tem como alvo as proteínas tau, que ficam dentro das células cerebrais. Ele impede a sua deterioração, antes que elas danifiquem o cérebro. Já há pesquisas também com moléculas que evitam a formação das placas de betaamilóide. Nos doentes, ela dificulta a comunicação entre os neurônios, causando a sua morte.

Uma das principais promessas nessa linha de ataque é o LY2062430, um anticorpo monoclonal do laboratório americano Eli Lilly, também apresentado no encontro de Chicago. Ainda na fase 2 de pesquisas, ele reduziu significativamente o volume das placas. As duas frentes de ação dividem os cientistas. Há os “tauístas”, para quem a betaamilóide não origina a doença, mas facilita a sua progressão. Já a outra corrente defende que seria ela – e não a tau – a causadora do Alzheimer. Para os moderados, bom mesmo seria chegar a um coquetel que atacasse ambas de uma só vez.

Adriana Dias Lopes/Veja

A fórmula russa contra o Alzheimer

Por que um antialérgico dos anos 80 é a nova esperança no combate à progressão da doença
marcela buscato

Apesar de os primeiros resultados serem promissores, ainda é cedo para considerar o remédio russo como um freio para o Alzheimer.

“Eles sugerem claramente que o Dimebon está agindo sobre os sintomas da doença, o que não significa que ele também esteja protegendo os neurônios”, diz o neurologista Eduardo Mutarelli, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

“Esse efeito precisa ser comprovado.”

O estudo publicado há três meses foi considerado bem-feito pelos especialistas, mas só ele não reúne evidências suficientes para atestar os benefícios do Dimebon.

A pesquisa foi feita com um grupo pequeno – 183 pessoas – e com características peculiares.

A idade média, 68 anos, é inferior à tipicamente usada por pesquisadores em estudos sobre a doença. E o fato de todos os voluntários serem russos também poderia provocar uma distorção nos resultados.

Os remédios empregados no tratamento do Alzheimer ainda não são muito consumidos no país porque são caros. Por isso, é possível que qualquer medicação surtisse um efeito notável no grupo.

“Outras pesquisas são necessárias para comprovar que os resultados obtidos podem ser replicados em qualquer paciente”, diz o neurologista Paulo Caramelli, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

O estudo para confirmar os benefícios do Dimebon em um número maior de pacientes já está em andamento. Conta com 525 pessoas, de várias nacionalidades.

Há voluntários da Europa, da América do Sul e dos Estados Unidos.

Se a eficácia for comprovada, a Pfizer e a Medivation esperam pedir em 2010 a aprovação para vender o Dimebon no mercado americano.

O remédio estaria nas farmácias dos Estados Unidos a partir de 2011, não se sabe se com o mesmo nome ou com um novo.

Nesse cenário, o Dimebon chegaria ao mercado sem a comprovação do benefício que causou maior entusiasmo: seu efeito protetor sobre os neurônios e seu conseqüente potencial para retardar o avanço da doença.

“Para isso, precisaríamos fazer um estudo com duração de 18 meses, e não de seis meses, como o que está em andamento”, afirma a endocrinologista Lynn Seely, diretora-médica da Medivation.

“Consideramos que para os pacientes o mais importante é ter o medicamento no mercado logo”, diz Lynn. “Para eles, não importa como o remédio funciona.”

Faltam pesquisas que comprovem os benefícios do Dimebon
num grande número de pacientes

O fato de o Dimebon ter sido desenvolvido a princípio com outra finalidade – controlar reações alérgicas – ajudou a ganhar tempo.

Não foi necessário fazer novamente testes em animais para verificar os perigos que a medicação poderia oferecer.

O remédio já havia passado por essas etapas quando foi aprovado.

Por essa economia de tempo e dinheiro, pesquisadores como o alemão Peer Bork, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular, afirmam que as bulas de drogas já aprovadas são um novo campo a ser explorado pela indústria farmacêutica.

Não foram poucos os remédios descobertos dessa maneira.

Uma das drogas já usadas no tratamento do Alzheimer, a memantina, também foi desenvolvida para outro uso: controlar o mal de Parkinson, que causa tremores e rigidez muscular.

O próprio Bork descobriu 13 novos usos para drogas antigas ao reavaliar 20 medicamentos.

Constatou, inclusive, que um remédio usado em casos de Alzheimer, o donepezil, poderia tratar pacientes depressivos.

“O problema é que geralmente as empresas têm boas patentes sobre as drogas e acabam desencorajando pesquisas para descobrir novas indicações”, diz.

Apesar das dúvidas que ainda cercam o Dimebon, drogas com um princípio de ação similar ao seu parecem ser o futuro do tratamento do Alzheimer.

Pelo menos, foi nesse tipo de medicação – que atua nos mecanismos iniciais da doença – que as grandes empresas farmacêuticas centraram seus esforços.

A irlandesa Elan e a americana Wyeth iniciaram a última etapa de testes do anticorpo bapineuzumab, que conseguiria se ligar às placas da proteína betaamilóide e “limpar” o cérebro.

Os resultados das pesquisas já concluídas, porém, deixaram dúvidas.

Em um grupo de pacientes, o anticorpo não causou nenhuma melhora nos sintomas.

A Eli Lilly está na segunda etapa dos estudos clínicos de seu anticorpo.

E também já teria começado a última fase de pesquisa de uma medicação que impede a formação da proteína betaamilóide.

Um laboratório menor, o TauRx Therapeutics, de Cingapura, investe na droga Rember.

Ela conseguiria dissolver a proteína tau, que também estaria ligada ao Alzheimer, porque destrói os microtúbulos por onde circulam nutrientes para os neurônios.

Assim como o Dimebon, o Rember é conhecido por outros usos.

Popularmente chamado de azul de metileno, é usado como corante. Agora, está na segunda etapa de pesquisas para provar sua ação contra o Alzheimer.

Não deixa de ser irônico que em um tempo de modernas técnicas de bioengenharia e diante do potencial das células-tronco, capazes de reconstruir qualquer tecido do organismo, drogas de décadas atrás despontem como o que há de melhor na guerra contra o Alzheimer.

As famílias, tão carentes de recursos eficazes, esperam que os estudos sejam acelerados. É uma luta contra o tempo.

A nova promessa

O Dimebon está nas últimas fases de teste com pacientes. Sua chegada às farmácias dos Estados Unidos está prevista para 2011



O QUE É

O Dimebon era usado na Rússia para tratar alergias até os anos 90.

Estudos feitos em ratos sugeriram que ele melhoraria o aprendizado e a memória.

Por isso, passou a ser estudado para o tratamento de Alzheimer


O QUE FAZ

Seria o primeiro medicamento capaz de proteger os neurônios e retardar a progressão da doença.

Em um teste, o desempenho dos pacientes foi igual ou superior ao observado antes do tratamento


COMO FUNCIONA

O mecanismo de ação ainda não foi desvendado.

Combinaria a ação das drogas que já existem para tratar a doença e que melhoram os sintomas.

Além disso, protegeria a fábrica de energia das células, evitando a morte dos neurônios